domingo, 27 de dezembro de 2015

A discussão acerca da ressurreição

Teologia Contemporânea


A discussão acerca da ressurreição



            A ressurreição é uma das áreas mais amplamente discutidas da teologia cristã moderna. A questão da ressurreição de Cristo – mais especificamente, se Cristo foi, ressurreto dentre os mortos e, em caso afirmativo, o significado desse acontecimento – reúne os elementos centrais da crítica iluminista ao Cristianismo tradicional.
            A ênfase na valorização da razão, característica do Iluminismo, levou ao desenvolvimento de uma atitude extremamente cética quanto à ressurreição no século XVIII. G.E.Lessing depois de confessar que não experimentou em primeira mão a ressurreição de Jesus Cristo, Lessing pergunta: Por que se pede dele que creia em algo que não viu?  Em outras palavras, uma vez que homens e mulheres não são ressurretos dentre os mortos hoje em dia, por que devemos crer que isso aconteceu no passado?
            Esse ceticismo cada vez maior obrigou o Cristianismo tradicional a defender a doutrina da divindade de Cristo com base em argumentos não relacionados a milagres – o que, na época, ele se mostrou singularmente incapaz de fazer. A realidade é racional e os seres humanos possuem as habilidades epistemológicas necessárias para descobrir a organização racional do mundo. A verdade não é algo que exige ser aceita com base numa autoridade externa; deve ser reconhecida e aceita pela pessoa autônoma capaz de pensar com base na percepção da congruência entre aquilo que esse indivíduo sabe ser verdadeiro e a suposta “verdade”que se apresenta para verificação. A verdade é algo discernido, e não algo imposto.

David Friedrich Strauss: a ressurreição como mito
            Depois de excluir a ressurreição como uma “ocorrência objetiva miraculosa” Strauss situou a origem da crença em um nível puramente subjetivo. A ressurreição devia ser vista como um mito – não uma invenção deliberada, mas uma interpretação dos acontecimentos em termo daquilo que fazia sentido para  a cultura palestina do primeiro século. Deve-se considerar que a crença na ressurreição como acontecimento objetivo se tornou impossível com a extinção dessa cosmovisão.

Rudolf Bultmann: a ressurreição como acontecimento na experiência dos discípulos
            Bultmann compartilha da convicção básica de Strauss de que, nessa era científica, é impossível crer em milagres. A crença na ressurreição objetiva de Jesus, ainda que perfeitamente legítima e compreensível no primeiro século, não pode ser levado a sério nos dias de hoje. A cosmovisão de uma pessoa é formada de acordo com a era em que vive e não pode ser alterada. Por esse motivo, a ressurreição deve ser considerada “pura e simplesmente um acontecimento mítico”. A ressurreição é algo que aconteceu na experiência subjetiva dos discípulo, e não algo que ocorreu no âmbito público da História.

Karl Barth: a ressurreição como um acontecimento histórico além da investigação crítica
            O túmulo vazio é “um sinal indispensável” que “evita todos os possíveis mal-entendido”. Demonstra que a ressurreição de Cristo não foi um acontecimento puramente íntimo, interno ou subjetivo, mas algo que deixou uma marca na História.
Barth enfatiza que Paulo e os outros apóstolos não estão pedindo a aceitação de um relato histórico perfeitamente atestado, mas sim uma decisão de fé. A investigação histórica não pode legitimar ou prover segurança para essa fé; assim como a fé não pode se tornar dependente dos resultados provisórios da investigação histórica.

Wolfhart Pannenberg: a ressurreição como um acontecimento histórico aberto à investigação crítica
            A história, em sua totalidade, só pode ser entendida quando é vista de seu ponto final.Em outras palavras, o fim da História, que ainda não ocorreu, foi revelado de antemão na pessoa e obra de Cristo. Enquanto Bultmann tratou a ressurreição como um acontecimento dentro do mundo experimental dos discípulos, Pannenberg declara que ele pertence ao mundo da história pública universal.
            Pannenberg enfatiza que as analogias são sempre analogias consideradas do ponto de vista do observador humano; esse ponto de vista é radicalmente restrito em sua abrangência e não pode permitir que ele sirva de base absolutamente segura para investigação crítica. Se o historiador se propõe a investigar o Novo Testamento convicto de que “pessoas mortas não ressuscitam”, essa conclusão será apenas projetada no conteúdo neotestamentário. A avaliação “Jesus não ressuscitou dentre os mortos” será pressuposição, e não conclusão dessa investigação. As evidências históricas que apontam para a ressurreição de Jesus devem ser investigadas sem nenhuma pressuposição dogmática de que essa ressurreição não poderia ter ocorrido.
            A ressurreição de Jesus prenuncia a ressurreição  geral do fim dos tempos e traz para a História tanto essa ressurreição  quanto a revelação plena e final de Deus. A ressurreição é, portanto organicamente ligada à revelação própria de Deus em Cristo e estabelece a identidade de Jesus Cristo com Deus, permitindo que essa identidade com Deus seja em seu ministério pré-Páscoa. Serve, por isso, de base para uma série de declarações cristológicas, incluindo a divindade de Cristo ( não somente a forma como esta é expressada ) e sua encarnação
*** 

            Todas as correntes teológicas citadas procuravam desenvolver uma reflexão teológica embasada na experiência, voltada para o entendimento da nossa cultura ocidental e não no testemunho da Revelação de Deus ( as Sagradas Escrituras ). Problema  que desde os tempos apostólicos, a igreja se viu diante de um grande desafio que era formular diversos métodos de interpretação das Escrituras Sagradas durante a história do Cristianismo para melhor se aproximar dos escritos bíblicos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário