Teologia Contemporânea
A discussão acerca da
ressurreição
A
ressurreição é uma das áreas mais amplamente discutidas da teologia cristã
moderna. A questão da ressurreição de Cristo – mais especificamente, se Cristo
foi, ressurreto dentre os mortos e, em caso afirmativo, o significado desse
acontecimento – reúne os elementos centrais da crítica iluminista ao
Cristianismo tradicional.
A
ênfase na valorização da razão, característica do Iluminismo, levou ao
desenvolvimento de uma atitude extremamente cética quanto à ressurreição no
século XVIII. G.E.Lessing depois de confessar que não experimentou em primeira
mão a ressurreição de Jesus Cristo, Lessing pergunta: Por que se pede dele que
creia em algo que não viu? Em outras
palavras, uma vez que homens e mulheres não são ressurretos dentre os mortos
hoje em dia, por que devemos crer que isso aconteceu no passado?
Esse
ceticismo cada vez maior obrigou o Cristianismo tradicional a defender a
doutrina da divindade de Cristo com base em argumentos não relacionados a
milagres – o que, na época, ele se mostrou singularmente incapaz de fazer. A
realidade é racional e os seres humanos possuem as habilidades epistemológicas
necessárias para descobrir a organização racional do mundo. A verdade não é
algo que exige ser aceita com base numa autoridade externa; deve ser
reconhecida e aceita pela pessoa autônoma capaz de pensar com base na percepção
da congruência entre aquilo que esse indivíduo sabe ser verdadeiro e a suposta
“verdade”que se apresenta para verificação. A verdade é algo discernido, e não
algo imposto.
David Friedrich
Strauss: a ressurreição como mito
Depois
de excluir a ressurreição como uma “ocorrência objetiva miraculosa” Strauss
situou a origem da crença em um nível puramente subjetivo. A ressurreição devia
ser vista como um mito – não uma invenção deliberada, mas uma interpretação dos
acontecimentos em termo daquilo que fazia sentido para a cultura palestina do primeiro século.
Deve-se considerar que a crença na ressurreição como acontecimento objetivo se
tornou impossível com a extinção dessa cosmovisão.
Rudolf Bultmann:
a ressurreição como acontecimento na experiência dos discípulos
Bultmann
compartilha da convicção básica de Strauss de que, nessa era científica, é
impossível crer em
milagres. A crença na ressurreição objetiva de Jesus, ainda
que perfeitamente legítima e compreensível no primeiro século, não pode ser
levado a sério nos dias de hoje. A cosmovisão de uma pessoa é formada de acordo
com a era em que vive e não pode ser alterada. Por esse motivo, a ressurreição
deve ser considerada “pura e simplesmente um acontecimento mítico”. A
ressurreição é algo que aconteceu na experiência subjetiva dos discípulo, e não
algo que ocorreu no âmbito público da História.
Karl Barth: a
ressurreição como um acontecimento histórico além da investigação crítica
O
túmulo vazio é “um sinal indispensável” que “evita todos os possíveis
mal-entendido”. Demonstra que a ressurreição de Cristo não foi um acontecimento
puramente íntimo, interno ou subjetivo, mas algo que deixou uma marca na
História.
Barth enfatiza que Paulo e os
outros apóstolos não estão pedindo a aceitação de um relato histórico
perfeitamente atestado, mas sim uma decisão de fé. A investigação histórica não
pode legitimar ou prover segurança para essa fé; assim como a fé não pode se
tornar dependente dos resultados provisórios da investigação histórica.
Wolfhart Pannenberg:
a ressurreição como um acontecimento histórico aberto à investigação crítica
A
história, em sua totalidade, só pode ser entendida quando é vista de seu ponto
final.Em outras palavras, o fim da História, que ainda não ocorreu, foi
revelado de antemão na pessoa e obra de Cristo. Enquanto Bultmann tratou a
ressurreição como um acontecimento dentro do mundo experimental dos discípulos,
Pannenberg declara que ele pertence ao mundo da história pública universal.
Pannenberg
enfatiza que as analogias são sempre analogias consideradas do ponto de vista
do observador humano; esse ponto de vista é radicalmente restrito em sua
abrangência e não pode permitir que ele sirva de base absolutamente segura para
investigação crítica. Se o historiador se propõe a investigar o Novo Testamento
convicto de que “pessoas mortas não ressuscitam”, essa conclusão será apenas
projetada no conteúdo neotestamentário. A avaliação “Jesus não ressuscitou
dentre os mortos” será pressuposição, e não conclusão dessa investigação. As
evidências históricas que apontam para a ressurreição de Jesus devem ser
investigadas sem nenhuma pressuposição dogmática de que essa ressurreição não
poderia ter ocorrido.
A ressurreição de Jesus
prenuncia a ressurreição geral do fim
dos tempos e traz para a História tanto essa ressurreição quanto a revelação plena e final de Deus. A
ressurreição é, portanto organicamente ligada à revelação própria de Deus em
Cristo e estabelece a identidade de Jesus Cristo com Deus, permitindo que essa
identidade com Deus seja em seu ministério pré-Páscoa. Serve, por isso, de base
para uma série de declarações cristológicas, incluindo a divindade de Cristo (
não somente a forma como esta é expressada ) e sua encarnação
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