RESUMO
Esse
é um salmo, de lamentação individual, inicia com um grito pedindo ajuda contra
uma situação, precária e incerta, em que alguém se encontra. Situação causada
por uma variedade de inimigos, perseguição e perigos, ou alguma enfermidade. O
salmista se vê necessitado da ajuda divina e já na introdução expressa sua
confiança em Deus (SILVA; LÓ, 2012. p-124). E então termina com um tom de fé e
louvor, uma vez que a oração da tenha sido respondida, ou que se espere que
seja em breve respondida.
Gênero
A súplica é um
dos temas mais frequentes no saltério. Como todos os salmos de súplica, este
lança luz sobre a violência e a traição dos tempos em que a sobrevivência
diária diante da morte era um desafio constante. Tornava-se necessário uma
intervenção divina para salvar os piedosos da destruição nas mãos de homens
cruéis e desarrazoados. ( CHAMPLIN, 2001. P-2101)
Este
salmo fala de um inocente perseguido ou acusado injustamente por inimigos que
ameaçavam sua vida física (vs. 10,12). Podiam ser inimigos de guerra, ou inimigos
pessoais, dentro do acampamento de Israel. O salmista leva sua causa a Deus,
para ser decidida no templo (v. 2). Ele pleiteava por vindicação (cf. I Reis
8.31,32). Durante a noite, até a hora da sentença, goza de asilo do templo,
pela manhã será admitido à presença de Deus. (SCHÖKEL; CARNITI, 1996 P-289). Alguns
estudiosos fazem deste texto um salmo messiânico, e o clamor seria o do Justo
Jesus perante Seus perseguidores (ver I Ped. 2.23). Mas a maioria dos
estudiosos não classifica assim este salmo. Alguns veem em I Sam. 23.26 e 24.11
como indicações das circunstâncias históricas de Davi, seu desespero e então a
defesa de sua integridade. Mas essas coisas são apenas conjecturas, sem nenhuma
evidência real.
SALMOS 17 (16) – Fonte: BÍBLIA DE JERUSALÉM
1 Ouve, Iahweh, a justa
causa; atende ao meu clamor; dá ouvido à minha súplica, que não sai de lábios mentirosos.
O
vs. 1 é um apelo, palavras de um acusado que precisava de livramento da
opressão que poderia terminar em sua execução, legal ou ilegalmente. Davi (ou algum outro poeta) tinha ciência da própria integridade,
ameaçada então por um ou mais inimigos que apresentavam falsas acusações contra
ele. A
urgência da súplica é provada pelo tríplice chamamento. “Ouve... atende a meu clamor...
dá ouvido”. Deus precisou intervir para salvar o pobre homem de sofrer
injustamente, talvez até de ser executado.
2 Que
minha sentença provenha da tua face, teus
olhos vejam onde está o direito.
O
vs. 2 é uma petição, A vindicação era o principal objeto desta oração.
Uma decisão justa só poderia descer da parte de Deus. Na presença de Deus, o
homem justo goza de segurança. (“...tua face, teus olhos...” antropomorfismo)
3 Tu
sondas o meu coração, tu me visitas de noite; tu me provas sem encontrar em mim
infâmia: minha boca não transgride.
Três
condicionais precedem a uma principal. O autor pede que sua integridade seja
divinamente confirmada. Ele não carecia de uma decisão de tribunal, mas ser por
Deus julgado e considerara inocente de
todas as acusações. A noite é tempo de recolhimento e intimidade. (SCHÖKEL; CARNITI, 1996. P-292)
Nos períodos noturnos, quando os sonhos e a meditação
examinavam a vida do salmista e sua conduta, a sentença era dada. ( CHAMPLIN,
2001. P-2101)
4 Como
costumam os homens. Eu observei a palavra dos teus lábios, no caminhos prescrito.
Quanto às ações dos homens. O
poeta sagrado tinha evitado as veredas dos ímpios. Ver Jó. 23.11-12: “Meus pés
se apegaram a seus passos... Não me afastei do mandamento de teus lábios...” O poeta sagrado tinha certeza de caminhar
exclusivamente pelos caminhos abençoados de Deus. Ele identificava os ímpios,
evitava-os e, como um príncipe fiel, proibia seus súditos de tornar-se
companheiros dos ímpios, restringindo os bondosos de seguir maus exemplos;
antes, ele fizera da Palavra de Deus a regra de sua conduta” (Cf.comentario 17.4: Biblia de Estudo de Genebra,2009. P-698).
5 mantendo os meus passos; meus pés vascilaram nas tuas
pegadas.
Os passos do poeta estavam apegados aos caminhos de Deus mediante o poder
do Ser divino. Ele era um homem dotado de uma confiança na Fonte de toda
bondade. Esta confiança não era apenas ocasional, mas constante e por essa
razão, a proteção no sentido de seus pés não escorregarem ou de evitar a
distensão do tornozelo ( cf. Sl 18.37) era uma benção importante.
6 Eu clamo a ti, pois tu me respondes, ó Deus! Inclina a mim teu ouvido, ouve a minha palavra.
“Eu,clamei”. Com
livre e válida intensidade (Santo Agostino1997.P-154) O poeta perseguido invoca a Deus,
sua única esperança, aguardando uma resposta e uma intervenção que o vindicaria
das acusações contra ele. Ele acreditava que Deus intervinha na vida humana.
Ele não acreditava que os homens estavam abandonados às suas próprias forças e
recursos. O salmista se contrastava com aqueles homens violentos, que só
queriam prejudicá-lo. Ver o vs. 4. Este versículo é uma espécie de renovação do
pedido, um fortalecimento, porquanto agora o poeta sacro declararia petições
específicas. Os elementos dessa petição estendem-se do vs. 7 ao vs. 14, e então
o vs. 15 fornece a esperançosa conclusão de toda a questão. (
CHAMPLIN, 2001. P-2101)
7 Demonstra o teu amor, tu que salvas dos agressores que se
refugia a tua direita.
O poeta apela para a compaixão e a fidelidade de Deus. Na
história de Israel pode-se identificar muitos momentos em que Deus havia
salvado seu povo em perigo. O poeta conhecia Deus como Salvador.
8 Guarda-me como a pupila dos olhos, esconde-me à sombra de tuas asas,
“...como a pupila dos olhos...” uma
imagem para aquilo que há de mais precioso. (frase extraída de Dt.32.10-11) uma
das partes mais sensíveis do corpo que precisa de proteção.
9 londe
dos ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me cercam.
O incidente com Saul em I Sm23.26 é um exemplodos inimigos
mortais que cercam.
10
Eles envolvem seu coração com gordura, sua boca fala com arrogância.
“...seu coração com gordura...” podeira ser uma caricatura da aparência física dessas pessoas
perversas. (cf. comentário Biblia de Estudo de Genebra.2009.p-699)
Gordura refere-se a luxuria (“...Tendes vivido no sprazeres; tendes engordado
vosso coração, em dias de matança.”Tg.5.5)
11 Caminham
contra mim e agora me cercam, fixando seus olhos para jogar-me por terra.
O inimigo havia tomado iniciativa de destruir o poeta.
12 Parecem-se
leão, ávidos por devorar, filhote de leão, agachado em seu covil. A metáfora do leão fala de um poder
superior e cruel que põe fim doloroso a algum poder que lhe é inferior e não
consegue resistir aos seus ataques. Um leão velho é temível, mas os leões
jovens são ainda piores. ( Sl 10.9; 22.14; 35.17- textos bíblicos são notas de
referência da Bíblia de Jerusalém). O poeta sagrado precisava da intervenção
divina contra uma força superior, cujo propósito era matar.
13 Levanta-te, Iahweh! Enfrentá-os! Derruba-os!Que tua espada
me liberte do ímpio.
Antes que o assassino
pudesse fazer o mal, como implorou o salmista, que Deus o derrubasse com a Sua
espada. Salmista pede que Deus intervenha na situação. Esta linguagem é
encontrada com frequência nos lamentos. Veja Jr 15.15-16, onde o profeta ora
expressando a situações de desespero diante de forças de opositores.
14 e tua mão, ó Iahweh, dos mortais, dos mortais, que em
vida, já têm sua parte deste mundo! Enche-lhes o ventre com que tens em
reserva; seus filhos ficarão saciados e deixarão o que sobrar para os
pequeninos.
Imprecação
lançada contra os ímpios, cujo objetivo é acabar com a comunidade dos fiéis. O
apelo para Deus invoca a sentença vindicativa para serem nivelados à sorte
comum dos pobres mortais os que parecem tão seguros de si e protegidos dos
golpes do infortúnio, em virtude das muitas riquezas acumuladas dos quais ainda
se beneficiam seus descendentes.
15 Quanto a mim, com justiça eu verei tua face; ao despertar,
eu me saciarei com tua imagem.
Conforme usualmente acontece com os salmos de súplicas, as observações
finais infundem esperança. A “justiça” aqui mencionada consiste na equidade,
manifestada na relação de Deus com seu povo, com base na aliança sagrada. Por
conseguinte, em casos de graves necessidades, Deus intervém para fins de
salvação do indivíduo, como também de toda a comunidade dos fiéis, livrando-os
das crises que traumatizam sua fé e agraciando-os com benefícios divinos.
Alexandre Bilhalva;
Bibliografia:
AGOSTINHO, Santo. Comentários
aos Salmos (Salmos 1-50), Revisão H.Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1997.
BÍBLIA Portugues: Biblía de Jerusalém.
Nova edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2002
BÍBLIA Português. Bíblia
Sagrada Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida
(RA). 2.ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2015.
CHAMPLIN, N. Russell. Antigo Testamento interpretado versículo por
versículo – Volume 4 – Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares. 2º ed. Hagnos, 2001.
CHAMPLIN, N. Russell. Enciclopédia Bíblica: Teologia e Filosofia- Vol.5 P-R. Disponível
em: http://projetorestaurandovasos.blogspot.com/2016/11/baixar-enciclopedia-de-biblia-teologia.html.
Acesso 02/11/2018.
SCHÖKEL, L. Alonso; CARNITI, Cecília. Salmos I (Salmos
1-72) Tradução João Resende Costa. São Paulo: Paulus, 1996
SILVA, Cassio Murilo da, Leia a Bíblia como Literatura. São Paulo: Loyola, 2007.
SILVA, Cassio Murilo da; LÓ, Rita de Cácia. Caminho não muito suave. 2ºed. São
Paulo: Alínea, 2012.
WEISER, Arthur. Os Salmos - Comentários I. São Paulo:
Paulus, 1994
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